domingo, 12 de julho de 2009

A mídia sensacionalista, maldosa e sem ética.



A cada momento, estamos sendo bombardeados por uma série de informações jornalísticas que nos levam a repensar qual seria, de fato, o papel da imprensa moderna e, até que ponto, ela conserva seu princípio ético de divulgar temas de interesse público ou se, alternativamente, ela vem explorando assuntos interessantes para o público.

Todo mundo sabe que antes de morrer Michael Jackson era ridicularizado pela mídia por causa de suas esquisitices e excentricidades. Ele era freqüentemente acusado de pedofilia não só formalmente (por meio jurídico), mas também pela mídia que fazia do assunto um prato cheio para os urubus e ele nem sequer era lembrado como o Rei do Pop. Com a morte de Jackson, na ultima quinta (25), sua vida conturbada passou a ser explorada como nunca. Dessa vez com o lado bom (sua carreira) mais citados do que as coisas ruins. Coisa, que só foi possível graças à morte dele.

"Nos últimos dias, o mundo perdeu o seu “rei do pop”. E não é que depois de morto Michael Jackson voltou a estar em alta? Sim, ele voltou a ocupar um espaço de destaque na mídia, coisa que havia acontecido no passado apenas quando fazia sucesso ou estava envolvido em algum escândalo. O seu nome tem sido um dos mais procurados nos sites de busca na internet, seus discos voltaram a vender, suas músicas estão sendo baixadas aos montes na rede de computadores por pessoas do mundo todo, três das principais revistas do Brasil (a exemplo de revistas do exterior) dedicaram capas a ele, sites fizeram especiais dedicados a ele, programas televisivos de fofoca se deliciam com especulações a respeito de sua vida e das causas de sua morte.
De fato, temos vivido nos últimos dias uma verdadeira “febre de Michael Jackson”. O que não sabemos ainda é até quando essa febre vai durar. Os mais velhos olham para a figura de Jackson com nostalgia e os mais jovens se interessam por ele devido ao grande uso que a mídia tem feito da figura do cantor norte-americano. Se Jackson vai continuar ocupando espaço de destaque por muito tempo ou não, é algo que precisamos esperar para ver. De qualquer forma, a morte de Michael nos permite refletir a respeito de duas questões muito interessantes.
A primeira delas é a que gira em torno do poder que a mídia exerce sobre as pessoas. Nos últimos anos, Michael Jackson estava jogado às moscas, ninguém falava dele ou se lembrava dele, a não ser os seus fãs. Os únicos momentos em que ele reapareceu foram em 2005, com um escândalo de pedofilia, e, neste ano, quando foi anunciada uma turnê do cantor em Londres, turnê que começaria dia 13 em Londres. Quase ninguém se lembrava das músicas do cantor, quase ninguém falava de Jackson. Foi só o astro do pop morrer e pronto: todos falam dele, ouvem suas músicas etc. Michael Jackson está na moda de novo, a mídia tem usado e abusado da imagem do artista. Como foi dito no início deste texto, revistas, sites e programas televisivos dedicaram grandes espaços para o cantor. O público, desde trintões nostálgicos até adolescentes que nunca ouviram falar de Jackson, acaba sofrendo a influência da mídia e consome cada vez mais qualquer coisa que se relacione ao rei do pop como músicas, discos, revistas etc.
A segunda questão sobre a qual a morte de Jackson nos permite refletir gira em torno das intensas transformações ocorridas no âmbito da indústria cultural nos últimos anos. O que tem acontecido com os ícones da música? Por que hoje em dia não surgem grandes ícones como Michael Jackson? Ainda precisamos de figuras como o falecido rei do pop? O fato é que Michael construiu sua carreira e chegou ao auge dela em uma época em que artistas não surgiam e sumiam do universo do show business em intervalos de tempo incrivelmente curtos. Artistas como ele tinham tempo para se tornarem ícones de toda uma geração. Nos dias atuais, o mercado cultural é bem diferente; vivemos sob um ritmo acelerado que faz com que se tenha a necessidade de que surjam novidades a todo o momento. Nesse sentido, um cantor ou uma banda que estouram nas paradas de sucesso com o primeiro disco já estão completamente esquecidos dois ou três anos depois, ou seja, a maioria dos artistas de hoje não consegue construir uma continuidade de seu sucesso. Os artistas de hoje não ganham tempo suficiente por parte das gravadoras para se firmarem no mercado, são substituídos a todo o momento conforme as exigências mercadológicas.
Afinal, quem é o grande ícone da atual geração? Podem até haver alguns nomes de destaque, mas a verdade é que os mais significativos surgiram no mercado há mais de dez ou 15 anos. A triste verdade é que não temos visto nos últimos anos o surgimento de nenhum artista ou banda que tenha a real possibilidade de se tornar o ícone de toda uma geração. Dito isso, tememos que a resposta para a pergunta que serve de título para este texto talvez seja, independentemente do gosto musical de cada um, um grande e garrafal “sim, nós ainda precisamos de Michael Jackson”. Enquanto não surgirem outros artistas que se tornem ícones sólidos e representativos de toda uma época, continuaremos precisando dos velhos ícones como Michael Jackson e outros. Resta-nos apenas esperar que a atual geração tenha competência e criatividade suficientes para fazer surgir novos reis do pop, do rock etc. Precisamos de músicas que durem por tempos mais longos e não de hits que aparecem e somem das paradas de sucesso antes mesmo de aumentarmos o volume do som."

(*) Rodrigo Francisco Dias é graduando em História pela Universidade Federal de Uberlândia é bolsista de Iniciação Científica do CNPq.

Fonte: Coluna do Nehac, publicada no jornal Correio de Uberlândia, 10/07/2009.